Lençóis Maranhenses
Completando mais uma década de vida, resolvi comemorar conhecendo um dos lugares do topo da minha lista de viagens. Os lençóis e sua beleza digna de papel de parede, aquele paraíso idílico que sempre me pareceu praticamente inalcançável, foi o escolhido.
Mas eis que te digo uma coisa - que talvez nem deva dizer, já que o bom mesmo seria que esse lugar dos sonhos se mantivesse assim, virgem, como um retiro espiritual da terra - esse paraíso ja não é mais tão inacessível assim e apesar da vontade de passar 1 mês por lá, em 4/5 dias é possível conhecer quase tudo, das três cidades (ou vilarejos) que contornam o parque.
O fator mais importante é a boa dose de chuva que tem que vir no inicio do ano, proporcionando maio, junho, julho (com sorte agosto e setembro) de muitas lagoas e cheias.
Para visitar o parque nacional, (a não ser que vc venha fazendo as rotas das emoções de jericoacoara) é preciso chegar pelo aeroporto de São Luís. Há quem prefira ir direto do aeroporto para as cidades ao redor do parque, sem conhecer a capital, afugentados pela sua fama de decadente e perigosa.
Um pecado com a fofa são luis, que, infelizmente, apesar de ter mesmo um centro histórico descuidado e inseguro, merece sua visita e proveito de uma boa carne-de-sol!!
Eu sou apaixonada por festas populares e logo ali grudadinha com o carnaval está a festa junina, então imagina só minha alegria ao me dar conta de que indo ao maranhão em meados de junho, seria época do bumba meu boi!!!
Chegamos domingo a tarde (um dia praticamente deserto no centro, mas um pouco mais movimentado devido as festas juninas), em meia hora admiramos a beleza e contraste das pinturas suadas dos casarões de azulejos e as bandeirolas de cores vivas.
Nas ruas da Estrela e Portugal estão as principais atrações, passando pela praça Nauro Machado onde fica um dos palcos da festa junina.
De lá pegamos um taxi até a litorânea, o bairro a beira da praia, onde fica uma das filiais do restaurante Cabana do Sol, número 1 em carne de sol na cidade.
O combo de picanha de sol que é servido pra 2 mas alimenta 4!!!
Carne de sol, feijão de corda, farofa, banana frita, mandioca frita, purê de mandioca e arroz de cuxá (acompanhamento típico do maranhão, feito com molho à base de camarão seco, pasta de gergelim torrado e vinagreira).
De lá fomos até a praça Maria Aragão, onde fica o principal palco dos festejos.
Diferentemente do sudeste onde toca música caipira e do restante do nordeste onde toca forró, no maranhão as influências indígenas e portuguesas são muito fortes, refletindo nas músicas e nas danças. Aperte o play e veja só!!
Cacuriá Mirim
Império de Lisboa
Infelizmente o Boi (como é carinhosamente chamado por lá) sempre se apresenta tarde da noite. Como estávamos com transporte marcado pras 2.30 da manhã (aham, isso mesmo), não tivemos condição de ficar até muito tarde. De volta ao centro onde nos hospedamos ainda conseguimos ver numa praça pequena a apresentação e festa dos moradores locais. (dessa vez fomos sem telefone e bolsa, só por precaução)
Santo Amaro:
Saindo as 2.30 da manhã de carro com o Denilson (empresa que faz o transporte até sangue com traslado para Santo Amaro), as 3 trocamos para uma van e as 5.30 chegamos a sangue, uma parada (sem sinal de celular) à beira da estrada.
Ali, ao nascer do sol, trocamos para a jardineira (veiculo com tração 4x4 e bancos na carroceria, pois a estrada até santo amaro é de terra).
O percurso total com espera na troca de veículos foi de quase 5 horas, custando 60 reais para cada.
Denílson: (98) 988089190
O segundo percurso costumava durar 2 incessantes horas de sacolejo, mas com as obras da estrada iniciadas o terreno já estava reto, sem buracos e em junho, durou cerca de 1hr e 15m.
Acredite, joelhos e costas agradecem!!
Não espere nenhum conforto, mas tenha certeza que você vai agradecer como nós - quando tiver uma lagoa inteira só pra você - o fato desse lugar ser tão complicado de chegar!!!
Santo amaro é um vilarejo bem simples, com pouco mais de 15mil habitantes, banhada pelo rio alegre onde grande parte ainda é de estrada de chão. É a "cidade" que é de fato a mais perto do parque.
Em épocas de lagoas cheias dá até pra chegar nelas andando. Ficamos hospedados na pousada Rancho das Dunas do outro lado do rio e como não há ponte, a travessia é feita de 4x4 ou a pé, mas somente no inverno, quando o volume das aguas é baixo.
Como nossa pousada era um pouco isolada, acabamos fazendo todas as refeições lá mesmo, pois já não tínhamos visto muitas opções pelo vilarejo.
E vamos ao que interessa!!!
No dia em que chegamos foi inaugurada a cooperativa de turismo de Santo Amaro, antes disso, todos os passeios eram agendados pelas pousadas, que já tinham seus parceiros motoristas e guias.
Parece ser uma idéia muito legal, mas só saem passeios se o numero mínimo de pessoas for atingido!!! Sendo assim, se vc der azar como a gente - que chegamos 7 da manhã a fim de aproveitar - pode só conseguir fazer um passeio as 3 da tarde.
Assim que a gente adentra o parque já começa a ficar embasbacado com tamanho cenário!
E mal imagina que ainda há muita beleza por vir!!
Esse passeio consiste em duas das principais lagoas, começando pela das Gaivotas, o único lugar na viagem toda que de fato vi um grupo grande de pessoas (com direito a barraca e aparato de praia) :
E a Lagoa das Andorinhas, mais profunda e longa:
Depois de uma horinha absorvendo tamanha beleza, boiando na agua doce morna, ainda tinha um espetáculo de pôr-do-sol a nossa espera:
Ainda teve paradinha estratégica na praça pra refrescar com os sorvetes de frutas típicas da região.
Para o dia seguinte, resolvemos não contar com a cooperativa pra não correr o risco de ficar sem passeio novamente e contratamos os serviços de um guia particular, fazendo o passeio de quadriciclo, com toda liberdade e autonomia de poder parar e ficar onde quiséssemos.***
Dá até medo de deixar pegadas na areia e bagunçar essa beleza intacta...
São muitas lagoas e a maioria sem denominação, já algumas fazem jus ao nome, Lagoa Bela:
Por volta de meio-dia, quando sol já é quente demais (não há sombra, obviamente e reflexo de sol por todos os lados), fomos visitar uma familia que mora na beira do parque e faz farinha de mandioca.
Por volta de meio-dia, quando sol já é quente demais (não há sombra e reflexo de sol por todos os lados), fomos visitar uma familia que mora na beira do parque, fazendo farinha de mandioca.
Eles descascam montes de mandioca a mão na faca, contando prosa e ouvindo rádio, depois ralam e colocam a massa nessa engenhoca ao lado, que aperta a mesma até toda agua ser escorrida.
De lá seguimos pelo rio até o almoço do dia:
No cardápio cabrito com leite de côco e peixe fresco, feitos na simplicidade da casa da Márcia.
O almoço estava ótimo, mas melhor ainda foi esse cochilo na rede depois!!
Quando o sol já não estava mais tão escaldante, voltamos ao parque, dessa vez pra conhecer outras duas lagoas famosas dos arredores de Santo Amaro, a Lagoa da Betânia (nome do vilarejo próximo):
Ô bênção!!!
Até as lagoas secas são lindas!!!
E a minha lagoa preferida, mais do que especial de linda, ela que não tinha lido em nenhum blog de viagem, queridinha também do nosso guia, praticamente virgem: a Lagoa de Murici!
Um paraíso em marte!!!
Sonho com esse mergulho todos os dias:
Ao entardecer, as dunas ganham um outro contorno:
No dia seguinte, era planejado que fossemos para Atins, um povoado a`a beira do mar, com acesso ao parque. Para o tal, deveríamos voltar a sangue de jardineira na madrugada, de lá pegar uma van até barreirinhas e de lá pegar o barco subindo o Rio até Atins, percurso que duraria o dia inteiro!! (Também é possível fazer a pé, pernoitando em uma das comunidades que existem dentro do parque)
Sorte a nossa que conhecemos nosso guia e com ele fizemos a travessia pelo parque e assim, consequentemente, vimos todas as principais lagoas e exploramos todo o município de Santo Amaro nesses 3 dias.
Nesse dia passamos pelos grande lençóis. É notável a diferença do tamanho e volume das lagoas:
As principais lagoas desse lado são a Lagoa das Emendadas (que são duas lagoas que se encontram, formando uma ilha no centro) :
Não há foto que consiga "expressar" a magnitude dessas lagoas!
A lindíssima Lagoa das Pedras, que tem uma ilhota formada pela parte da duna que desceu:
E a Lagoa dos Britos, adjacente a comunidade Quebrada dos Britos, oásis que fica há duas horas de quadriciclo de Santo Amaro, onde residem aproximadamente 12 famílias que vivem da pesca e do criadouro de cabras e outros animais que andam soltos pelas dunas.
Não havia tempo pra visitar a comunidade, então chegando ao meio do parque, fomos pela praia até o canto de Atins, com a chegada devidamente planejada para o almoço no Antônio, famoso pelo camarão aberto - divino - feito na brasa.
O camarão faz mesmo jus à fama e o serviço é bem rápido. Talvez pela quantidade imensa de 4x4 que chegam de passeios tanto de atins quanto de barreirinhas.
Ao lado estão as deliciosas redes pra ajudar na digestão!!
De lá conseguimos uma carona até o povoado de Atins (que fica há uns 20min de carro), bem menor que Santo Amaro, ainda de estrada de terra/areia. Também muito simples, onde a maioria das pousadas não tem agua quente, mas onde já é notável a presença de investimentos estrangeiros. Há muitas pousadas e restaurantes gerenciados por europeus, pois ja não bastasse a proximidade dos lençóis, Atins também atrai muitos praticantes de kitesurf, denominando-a assim de Jericoacoara do maranhão.
Pra não perder o costume, mais um pôr-do-sol de presente:
Ficamos hospedados na super aconchegante e charmosa pousada Flamboyant, sem nada de luxo mas com um jardim lindo muito bem cuidado e todas as edificações decoradas com mosaicos feito pela dona, moradora local.
A noite comemos uma pizza otima no Pizza Bella e de sobremesa o sorvete maravilhoso-cremoso de Bacuri da Dona Dora!!
Não deixe de experimentar as frutas típicas do nordeste e, principalmente, prestigiar artesãos e trabalhadores locais como a fofura da Dona Dora, que faz os sorvetes na sua casa e vende sin-ge-los 2 reais!!!!!!!!!!!!! (Faça o favor e dê 5!)
No dia seguinte fomos conhecer as lagoas ao redor de Atins e ao invés de perambular entre tantas, pedimos pra um guia nos deixar no local onde estavam as mais bonitas e mais cheias e lá ficamos por algumas horas. A grande diferença das lagoas nesse pedaço esta na coloração. Enquanto as lagoas perto de Santo amaro são caribenhas, de areia branquíssima e fina, agua azul turquesa, aqui a areia é um pouco mais amarelada e a agua mais esverdeada, tanto que a a lagoa principal desse lado é a lagoa verde.
Na saída do parque, fomos novamente ao canto de Atins, dessa vez para almoçar no restaurante da Luzia, pioneira na região e no famoso camarão, mas que hoje divide a fama com o irmão Antonio que levou o segredo da receita e uma grande parcela da clientela.
Luzia estava bem mais vazio, o ambiente é um pouco mais caseiro, o camarão a mesma delícia mas não vem na casca, o que perde um pouco do "charme". Outro ponto principal é que ela não aceita cartão.
Se estiver na dúvida de em qual ir, garanto que os dois são uma delicia.
Ao meu ver, Antonio foi o empreendedor, homem de negócios que soube aproveitar a demanda turística, investindo em estrutura e mantendo um bom relacionamento com os guias e motoristas (é visível que eles preferem levar os turistas no Antonio) e Luzia , uma pessoa mais humilde, botou a mão na massa e fez a fama do camarão ser o que é!
No mesmo dia, as 2 da tarde pegamos a lancha voadeira para Barreirinhas pelo rio preguiça.
O transporte custa 50 reais por pessoa, existem jardineiras que também fazem o transporte por mais barato, mas além de durar mais, só saem de manhã cedo.
A paisagem às margens do Preguiças é linda, o rio é bem largo e o mangue de árvores altíssimas. O percurso dura cerca de 1 hora.
Farol de Mandacaru.
Barreirinhas não é das cidades mais bonitas e charmosas. Percebe-se o crescimento desorganizado e o foco no turismo, mas existem muitas opções de serviço e restaurantes. (todos os bancos e até um subway!!!)
Já um pouco cansados de comida caseira (o gringo nunca comeu tanto arroz com feijão na vida) nos realizamos com o ótimo temaki do restaurante Bambu, no deck a beira do rio. Quem diria, sushi no interior do Maranhão!
Um dos nossos quitutes preferidos da viagem foi o pastel de carne de sol com geléia de pimenta!! Não deixe de provar!
Para o 5º e último dia da nossa viagem, tínhamos planejado de manhã cedo conhecer as lagoas Azul e Bonita - as mais famosas dessa parte - mas grande foi nossa surpresa ao constatar que não havia nenhuma cia de turismo sequer (e são centenas por lá) que fizesse um passeio bate-volta!!
Nosso vôo era as 4 da tarde de São Luís então precisávamos sair por volta das 11 para o aeroporto.
Sendo assim, não querendo "perder" uma manhã, decidimos fazer o passeio de ultra-leve.
Caro, é fato! Mas valeu a pena ter uma real noção da magnitude do parque que tem simplesmente 270 km de perímetro, chegando a se estender por 25km do mar ao interior!
Beleza sem fim, digna de papel de parede!!!
De Barreirinhas para o aeroporto são 260km e existem algumas alternativas de transporte: ônibus da viação cisne branco (51,00 reais - com 4 saídas durante o dia), vans agendadas com empresas de turismo (preço varia e o horário normalmente já é fixado), ou de taxi da cooperativa que está localizada na praça principal (60,00 reais por pessoas, caso o carro chegue a 4 pessoas. Se não, é capaz que você tenha que pagar pelo lugar adicional caso eles não encontrem outras pessoas para dividir. É a alternativa mais rápida e com mais flexibilidade. Deu 3hrs e meia até o aeroporto)
Considerações finais: Com a construção da estrada, ir a Santa amaro será menos "somente para aventureiros", vale a pena deixar o conforto de lado pois lá esta o verdadeiro paraíso!
Se quiser se basear em Barreirinhas pela comodidade, não deixe de fazer o passeio a Atins!
Vale ressaltar que por ser uma formação natural, as lagoas mudam de tamanho e volume. Talvez as melhores lagoas do meu ano, não serão do seu, assim como lagoas que havia lido, nem visitei por estarem já secando. O mesmo critério vale para os preços.
***Vou deixar bem claro aqui que sabíamos que a utilização de tal veículo no parque deveria ser usada somente por moradores das comunidades que vivem em queimada dos britos ou baixa grande, mas muitos turistas fazem passeios assim pois não existem outras alternativas naquela área.
Há fiscalização e mais possibilidades de passeio somente ao redor de barreirinhas, onde existem várias empresas de turismo e consequentemente, exploração de mão de obra.
Nosso guia, nascido e criado em santo amaro, conhece o parque pelo avesso e de olhos fechados, sem gps, nos levou nos lugares mais incríveis que meus olhos ja viu, fiquei feliz de saber que o quadriciclo dele foi comprado na capital com seu dinheirinho suado e com nosso passeio o estávamos ajudando nas altas prestações do emprestimo que pegou para o tal. Não me sinto financiando algo de errado, e sim financiando a liberdade de um trabalhador que se não fosse pelo meu passeio estaria a mercê de ganhar uma taxa mínima do lucro do detentor dos meios de transporte.
Por proteção a ele, não vou divulgar o seu nome aqui.
Acredito que depois de alguns meses de cooperativa funcionando, o esquema pra aproveitar os lençóis ao redor de Santo Amaro estará mais organizado.